segunda-feira, 24 de setembro de 2012

E a Vovó Catarina? Qual sua história?

Bom, decidi contar um pouco sobre cada entidade que Deus, Olorum, guardou e me deu de presente a sua presença e seu axé por me acompanhar esse período na minha vida.
Quero começar por uma entidade espiritual muito controversa e polêmica:
Vovó catarina da Calunga.
Esse espírito de luz é cheio de graça e distribui bênçãos nesses anos
que me acompanha.



Tenho muitas lembranças de casos e mais casos acontecidos, contados e vivenciados por muita gente
que tem me acompanhado juntamente com a vovó.

Essa preta velha querida trabalha comigo desde que eu tinha 14 anos de idade e de lá pra cá tem colecionado
simpatizantes e também há quem não a compreenda.


Em muitas oportunidades a vó já virou a noite para ajudar a quem precisa e pra desmanchar feitiçaria, que é sua especialidade.

Já viajei, a mando dela, em outros estados para ir atras de ervas, cascas e pedreiras onde são realizados os rituais para quebrar qualquer demanda, como  em 1997 onde fui em Saco Grande , município de Palmeirinha MG onde a Vó foi tratar um senhor que não dormia a noite com acessos de loucura e obsessão ou em 2008 que fui à Januária- MG em missão para vencer outra demanda de um consulente.


Pesquisando sobre achei uma história, uma passagem atribuída a Vovó Catarina:

*História da Mentora Vovó Catarina *

*(Mas também conhecida como Dona Euzália)*



Os tambores tocavam o ritmo cadenciado dos Orixás, e nós dançávamos.
Dançávamos todos em volta da fogueira improvisada ou à luz de tochas ou
velas de cera que fazíamos. A comida era pouca, mas para passar a fome nós
dançávamos a dança dos Orixás. E assim, ao som dos tambores de nosso povo,
nos divertíamos, para não morrer de tristeza e sofrimento. Eu era chamada de
feiticeira. Mas eu não era feiticeira, era curandeira. Entendia de ervas,
com as quais fazia remédios para o meu povo, e de parto; eu era a parteira
do povo de Angola, que estava errando naquela terra de meu Deus. Até que
Sinhazinha me tirou do meu povo. Ela não queria que eu usasse meus
conhecimentos para curar os negros, somente os brancos; afinal, negro -
dizia ela - tinha que trabalhar e trabalhar até morrer. Depois, era só
substituir por outro. Mas Dona Moça não pensava assim. Ela gostava de mim, e
eu, dela. Fui jogada num canto, separada dos outros escravos, e todas as
noites eu chorava ao saber que meu povo sofria e eu não podia fazer nada
para ajudar. De dia eu descascava coco e moía café no pilão. À noite eu
cantava sozinha, solitária. E ouvia o cantar triste de meu povo, de longe.
Ouvia o lamento dos negros de Angola pedindo a Oxalá a liberdade, que só
depois nós entendemos o que era. E os tambores tocavam o seu lamento triste,
o seu toque cadenciado, enquanto eu respondia de meu cativeiro com as rezas
dos meus Orixás. A liberdade, que era cantada por todos do cativeiro, só
mais tarde é que nós a compreendemos. A liberdade era de dentro, e não de
fora.

Aqueles eram dias difíceis, e nós aprendemos com os cânticos de Oxóssi e as
armas de Ogum o que era se humilhar, sofrer e servir, até que nosso espírito
estivesse acostumado tanto ao sofrimento e a servir sem discutir, sem nada
obter em troca, que, a um simples sinal de dor ou qualquer necessidade, nós
estávamos ali, prontos para servir, preparados para trabalhar. E nosso Pai
Oxalá nos ensinou, em meio aos toques dos tambores na senzala ou aos
chicotes do capitão, que é mais proveitoso servir e sofrer do que ser
servido e provocar a infelicidade dos outros.

Um dia, vítima do desespero de Sinhá, eu fui levada à noite para o tronco,
enquanto meus irmãos na senzala cantavam. A cada toque mais forte dos
tambores, eu recebia uma chibatada, até que, desfalecendo, fui conduzida nos
braços de Oxalá para o reino de Aruanda. Meu corpo, na verdade, estava
morto, mas eu estava livre, no meio das estrelas de Aruanda. Em meu espírito
não restou nenhum rancor, mas apenas um profundo agradecimento aos meus
antigos senhores, por me ensinar, com o suor e o sofrimento, que mais
compensa ser bom do que mau; sofrer cumprindo nosso dever do que sorrir na
ilusão; trabalhar pelo bem de todos do que servir de tropeço. Eu era agora
liberta, e nenhum chicote, nenhuma senzala poderia me prender, porque agora
eu poderia ouvir por todo lado o barulho dos tambores de Angola, mas também
do Kêtu, de Luanda, de Jêje e de todo lugar. Em meio às estrelas de Aruanda
eu rezava. Rezava agradecida ao meu Pai Oxalá.

Fui pra Aruanda, lugar de muita paz! Mas eu retomei. Pedi a meu Pai Oxalá
que desse oportunidade pra eu voltar ao Brasil pra poder ajudar a Sinhá,
pois ela me ensinou muita coisa com o jeito dela nos tratar. E eu voltei.
Agora as coisas pareciam mudadas. Eu não era aquela nega feia e escrava. Era
filha de gente grande e bonita, sabia ler e ensinava crianças dos outros. Um
dia bateu na minha porta um homem com uma menina enjeitada da mãe. Era muito
esquisita, doente e trazia nela o mal da lepra. Tadinha! Não tinha pra onde
ir, e o pai desesperado não sabia o que fazer. Adotei a pobre coitada, fui
tratando aos poucos e, quando me casei, levei a menina comigo. Cresceu, deu
problema, mas eu a amava muito. Até que um dia ela veio a desencarnar em
meus braços, de um jeito que fazia dó. Quando eu retomei pra Aruanda, o que
vocês chamam de plano espiritual, ela veio me receber com os braços abertos
e chorando muito, muito mesmo. Perguntei por que chorava, se nós duas agora
estávamos livres do sofrimento da carne, então, ela, transformando-se em
minha frente, assumiu a feição de Sinhazinha! Ela era a minha Sinhá do tempo
do cativeiro. E nós duas nos abraçamos e choramos juntas. Hoje, trabalhamos
nas falanges da Umbanda, com a esperança de passar a nossa experiência pra
muitos que ainda se encontram perdidos em suas dificuldades.
*Extraído do Livro (TAMBORES DE ANGOLA)*

Abraços Fraternos.
Leilane Castro
--
"Tento ser como o sândalo que perfuma o machado que o corta".


[As partes desta mensagem que não continham texto foram removidas]


Hoje a Vovó Catarina tem uma Casa dedicada a ele, construída por mim no nosso Ilê Xaxará de Prata.
Nem sempre foi assim, já trabalhei com a Vó em matas e lugares mais apertados, como no antigo quarto de Caboclo no Nova Colina.

Tive contribuição de amigos
que ao decorrer desses anos tiveram contato em algum momento com a Vó.

Sinto em sua irradiação força de paz, sabedoria e doçura.


Salve Vovó Catarina!!!